Valete Quando o Sorriso Morre Lyrics

Mano, sorri, enquanto a vida corre
Porque um africano morre
Quando o seu sorriso morre...

[Valete]
O colonialismo acabou, Independência
Os tugas já se foram bro, a terra é nossa
Vê como a terra fica mais formosa vestida de negro
sem esses tolos pálidas a destuarem nas nossas rossas
Vê como as crianças agora correm sem destino (vê)
Vê como o povo agora não poupa sorriso (vê)
(Vê...nah, nah...)
Já não há empregos, médicos, nem professores (não há)
Não há quadros formados, não temos doutores (nada)
Não há comércio, não há serviços, não há nada
Os tugas bazaram e deixaram toda gente condenada, desempregada (...)

Não há nada, não, não é a__im, vê bem, não é a__im, não é a__im...

[Valete]
O colonialismo acabou por isso não há azar
Os tugas já se livraram dos Caetanos e Salazares (podes crer)
Passada a história, eles são nossos amigos agora (bem)
Imigra pra Portugal e começa uma vida nova (vai)
Aquilo é Europa, lá todos vivem bem
Sai desta miséria, vai, tenta ser alguém
Trabalha, poupa dinheiro e faz disso lei
Depois volta para terra rico pra viveres como rei

O colonialismo acabou...O colonialismo acabou

[Dino]
O mundo é teu, não sejas refém

[Valete]
Isto é Lisboa, não há sol todos os dias
Muito cimento, flora só em fotografias
Tens compatriotas a construír vilas que eles chamam ghettos
Vai viver ao pé deles, eles têm os teus enredos
Tugas dizem que não podes ter outros enlaçes
Prá além dos trabalhos precários porque só tens a 4ª classe
Mas a maioria dos tugas também só têm a 4ª classe
Diz-lhes que na época colonial eles não queriam que tu estudasses (diz-lhes)
Porque eles só queriam pretos, para mãos-de-obras escravas
Putos sonhavam em ser doutores mas o sistema desinsentivava
Não stresses...vai trabalhar nas obras
E vê se não dormes tarde porque tens de acordar às horas
Entras as sete horas e sais quando o sol se ausenta
Vais pra tormenta diária que todo o africano enfrenta
Pra carregar centenas de tijolos e baldes de massa
Levantar vigas man, como é que o teu corpo aguenta?
Aguenta, porque tu não podes ter outro trabalho
E os patrões sabem disso e quando lhes apetece nem te pagam salário

O colonialismo acabou...será?
O colonialismo acabou...será?

[Desconhecido]
Quando a luz, quando o sonho, quando tudo vai
Quando a chama, quando a força, quando tudo cai
Só te sobra o sorriso, tu e mais ninguém
Acredita, o mundo é teu, não sejas refém

[Valete]
Nem tudo é mau, olha como as tugas adoram-te
Sussurram que és robusto, só com o olhar devoram-te
Vai, tenta a conquistar essa aí da mercearia
Ela fica sem jeito sempre que lhe dás bom dia
Pediste-lhe pra sair, ela disse jamais
Estranhaste porquê,Tu és preto não sonhes alto demais
Manca-te, fica aí com a tua compatriota
Casa-te com ela, tem filhos e vê se segues a tua rota

Tu és preto man, manca-te...

Passaram-se 30 anos e tás pobre como estavas na terra
Desempregado porque o trabalho nas obras já não é o que era
Vieram os Brasileiros, vieram os homens do leste
Mão-de-obra barata, com bem mais formação que tu tiveste
Tás fodido, derrotado e abatido
Afogas-te na bebida até perderes sentido
Olha pro teu ghetto, mais mil como tu...olha pra outro ghetto, mais mil como tu
Tens quatro filhos, três estão na prisão
O outro tem 12 e já se gaba de ser fodido como os irmãos

Pfft, não era nada disso que tu sonhaste
Perdeste tudo que neste primeiro mundo tu nunca encontras-te

Mas mano, sorri, enquanto a vida corre
Porque um Africano morre
Quando o seu sorriso morre...

[Desconhecido]
Quando a luz, quando o sonho, quando tudo vai
Quando a chama, quando a força, quando tudo cai
Só te sobra o sorriso, tu e mais ninguém
Acredita, o mundo é teu, não sejas refém

Não sejas refém...

[Valete]
Mano, sorri, enquanto a vida corre
Porque um africano morre
Quando o seu sorriso morre...

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